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JAZZ AO CENTRO 2004

Ciclo "Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz" (Coimbra - Portugal)



  • Whit Dickey Quartet
  • Lugar: Auditório do I.S.E.C.

  • Fecha: 25/03/2004

  • Hora: 21:30 horas

  • Músicos:
    Whit Dyckey – bateria
    Daniel Carter – Saxofones tenor e alto, trompete e flauta / saxos tenor y alto, trompeta y flauta
    Roy Campbell Jr. – trompete, filiscórnio, pocket trumpet e flauta / trompeta, fliscornio, trompeta de bolsillo y flauta
    Joe Morris – contrabaixo / contrabajo

Resenha - Reseña 

Portugués: João Pedro Viegas

Español: João Pedro Viegas - traducción: Diego Sánchez Cascado

  • ResenhaO quarteto do norte americano Whit Dyckey não desiludiu aqueles que marcaram presença no início da primeira série dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, anteontem no auditório do ISEC.
    Com efeito, o quarteto praticou um jazz moderno, com largos espaços para o improviso que fez com que o relativamente pouco público presente tivesse saído satisfeito do espectáculo. É curioso que, apesar de termos assistido à apresentação do álbum “Coalescence”, que é um registo de composições abertas, a música tocada por este quarteto sempre se mostrou próxima da tradição jazzistica.

    Não será alheio a isto, o facto de Whit Dickey ser muito influenciado pela obra do grande Monk. Não admira que aí se influencie, pois o estilo de Monk tocar piano é muito percussivo. Whit Dickey foi um músico e líder com uma grande capacidade mobilizadora. Esteve, apesar do estilo négligé, muito atento ao que os comparsas iam fazendo e estabeleceu as necessárias pontes para ligar a música dos seus companheiros.

    Os momentos mais líricos do concerto saíram dos instrumentos do grande Daniel Carter. É um músico extraordinário, que impressiona pelo facto da dimensão do seu talento só ser comparável à dimensão da sua humildade. Carter foi, na minha opinião uma das estrelas da noite. Muito inspirado, o músico norte americano revelou em Coimbra um entendimento notável com Roy Campbell, o que não admira uma vez que fazem os dois parte do colectivo “Others Dimensions in Music”, no qual tocam juntos à anos. Notável ,uma parte do concerto tocado em uníssonos pelos dois músicos na flauta transversal.

    O que foi dito para Carter é válido para o grande trompetista Roy Campbell. Completamente à vontade nos vários sopros que tocou, onde revela farta inspiração aliada a um domínio técnico irrepreensível, só foi surpresa, e agradável diga-se, a tocar flauta. A consistência da sua música ficou em Coimbra bem patente, fazendo o público entender o porquê de ser um dos músicos do novo jazz que mais trabalha e é requisitado para trabalhar com outros colegas.
    Joe Morris viu a sua prestação afectada por problemas técnicos com o amplificador do seu contrabaixo. Não que a sua prestação não tivesse sido conseguida, nada disso, mas notou-se em palco que estava pouco confortável e que se ouvia pouco. Mas foi uma aposta ganha. Joe Morris é um dos mais singulares guitarristas do jazz contemporâneo, e aguardava-se com elevada expectativa a sua prestação como baixista. Não desiludiu e dá até para conseguir adivinhar para o músico uma carreira tão bem conseguida no baixo como tem, desde à muitos anos, como guitarrista.

    Resumindo, o concerto de dia 25 foi um bom começo para uma primeira série dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra que se espera estimulante e recheada de momentos únicos.

    João Pedro Viegas

  • Comentario: El cuarteto del estadounidense Whit Dickey no decepcionó a quienes acudieron al primer concierto de la serie de Encuentros Internacionales de Jazz de Coimbra, que tuvo lugar en el auditorio del ISEC.

    En efecto, el cuarteto realizó un jazz moderno, con amplios espacios para la improvisación, que hizo que el relativamente escaso público presente saliese satisfecho del espectáculo. Es curioso que, pese a haber asistido a la presentación del disco “Coalescence”, que es una obra de composiciones abiertas, la música tocada por este cuarteto siempre se mostró cercana a la tradición del jazz.

    No es ajeno a esto el hecho de que Whit Dickey esté muy influenciado por la obra del gran Thelonious Monk. No resulta sorprendente, ya que el estilo pianístico de Monk es muy percusivo. Whit Dickey se mostró como un músico y líder con una gran capacidad movilizadora. Pese a sus aires descuidados, estuvo muy atento a lo que sus compañeros realizaban y estableció los puentes necesarios para cohesionar la música del cuarteto.

    Los momentos más líricos del concierto surgieron de los instrumentos del gran Daniel Carter. Es un músico extraordinario que impresiona por la dimensión de su talento sólo comparable a la dimensión de su humildad. En mi opinión, Carter fue una de las estrellas de la noche. Muy inspirado, el músico estadounidense demostró en Coimbra un entendimiento notable con Roy Campbell, lo que no resulta sorprendente ya que ambos forman parte del colectivo Others Dimensions in Music, en el que tocan juntos desde hace años. Notable fue una parte de concierto tocada al unísono por los dos músicos a la flauta travesera.

    Lo que se ha dicho para Carter también es válido para el gran trompetista Roy Campbell. Completamente a gusto en los varios instrumentos que tocó, demostrando una enorme inspiración unida a un dominio técnico irreprochable, sólo resulto una sorpresa –y agradable- a la flauta. La consistencia de su música quedó bien patente en Coimbra, dejando claro al público por qué es uno de los músicos del nuevo jazz más solicitado por otros colegas y que más trabaja.

    Joe Morris vio su actuación afectada por problemas técnicos con el amplificador de su contrabajo. No es que su actuación no fuese buena, nada de eso, pero se notó que no estaba cómodo sobre el escenario y que se oía poco. Pero fue una apuesta ganadora. Joe Morris es uno de los más singulares guitarristas del jazz contemporáneo y se esperaba con grandes expectativas su actuación como bajista. No decepcionó, e incluso permite vislumbrar para este músico una carrera tan sólida al bajo como la que tiene, desde hace muchos años, como guitarrista.

    En resumen, el concierto del día 25 fue un buen comienzo para una primera serie de los Encuentros Internacionales de Jazz de Coimbra que esperamos sea estimulante y llena de momentos únicos.

    João Pedro Viegas Traducido por Diego Sánchez Cascado

  • Dennis González NY Quartet, featuring Oliver Lake
  • Lugar: Auditório do I.S.E.C.

  • Fecha: 26/03/2004

  • Hora: 21:30 horas

  • Músicos:
    Dennis González: trompete
    Oliver Lake: saxofone alto
    Mark Helias: contrabaixo
    Mike Thompson: bateria

Resenha - Reseña 

Portugués: João Aleluia

Español: João Aleluia - traducción: Diego Sánchez Cascado DISPONIBLE EN BREVE

  • Resenha: Foi uma sala meio lotada a que acolheu, na segunda jornada desta edição do Festival de Jazz ao Centro, o NY Quartet de Dennis González e que, à semelhança do que se havia verificado na noite anterior com o quarteto de Whit Dickey, serviu como apresentação do registo brevemente a editar por esta formação pela Clean Feed.

    Comparativamente ao disco da editora portuguesa, há uma diferença a assinalar no line-up que se apresentou em palco, que foi a substituição do sax tenor de Ellery Eskellin pelo alto de Oliver Lake. E tal poderá ter estado na origem de um certo desvio conceptual em relação ao inicialmente prognosticado. É que contrariamente à ideia ventilada nas notas de apresentação do concerto, a música praticada pelo quarteto nova-iorquino deste trompetista residente em Dallas não se alicerçou na prática de um jazz altamente estruturado e subjacente a complexas composições. Cenário bem diverso foi aliás o que se verificou, já que a preferência destes músicos recaiu na exploração de formas abertas e flexíveis, que se configuravam como janelas de oportunidade para o desenvolvimento de extensas improvisações.

    Dennis González foi de facto um líder, não por ter assumido qualquer tipo de protagonismo, mas por ter chamado a si próprio as funções de organizador e aglutinador. Estilisticamente, foi o mais cerebral dos presentes em palco, denotando uma preferência especial pela prática de intervalos curtos e, fundamentalmente, por diversas vezes ter cultivado uma abordagem quase minimalista. Tal revelou-se de forma particularmente evidente em algumas das figurações temáticas sobre as quais improvisou, nomeadamente quando experimentou gradações de uma mesma nota recorrendo ao efeito surdina, abordando assim, ainda que ao de leve, um dos conceitos explorados na seminal obra de Ligeti, “Musica Ricercata”.

    Oliver Lake foi o elemento mais vistoso do quarteto. Lídimo cultor da estética do grito e da catarse, Lake posicionou-se nos antípodas de alguns registos bem mais convencionais onde pontificou recentemente, como será o caso de, por exemplo, “Talkin’ Stick”.

    González e Lake são ambos abstraccionistas, mas enquanto o primeiro indicia uma certa tendência para a figuração, o segundo inclina-se mais para uma forma expressionista de abstracção. Se Dennis González representa o equilíbrio de uma certa energia, Lake será a sua deflagração... Mas neste concerto ficou bem demonstrado que, embora manifestando diferentes sensibilidades, são dois músicos perfeitamente compatíveis.

    Restar-nos-á agora tecer algumas considerações acerca dos dois elementos remanescentes que, pelo papel neste grupo desempenhado, não se enquadram na generalista designação de “secção rítmica”.

    Fisicamente fazendo lembrar o malogrado gigante da free improv europeia, Peter Kowald, Mark Helias demonstrou um total domínio instrumental, exímio no jogo de arco como no pizzicato.

    Mas a grande surpresa da noite residiu na figura do baterista Mike Thompson. Injectando um caudal rítmico plenamente ajustado às exigências musicais, Thompson exibiu a elevadíssimo nível a sua técnica proficiente, relevando-se em particular uma série de nuances tímbricas que conseguia extrair do seu arsenal percussivo, bem como a especial impetuosidade e paixão com que dilacerava um frame drum que se assemelhava a um címbalo amputado do seu “corpo” central...

    Não poderia terminar este texto sem me referir à peça final, naquela que foi a homenagem destes músicos ao grande Julius Hemphill.

    O aspecto de maior interesse nesta derradeira composição foi o aparecimento em palco dos sete alunos do Conservatório de Coimbra que no dia anterior haviam participado no workshop de trompete ministrado por Dennis González. González encarregou estes jovens músicos da execução, mediante sua ordem, de uma pequena sequência previamente composta, que ora dobrava, precedia ou finalizava as improvisações dos membros do seu quarteto. Foi uma forma feliz, saudável e pedagógica de baptizar jazzisticamente estes jovens praticantes (ainda para mais com músicos desta craveira!), assim encerrando com chave de ouro este belíssimo concerto.

    João Aleluia


  • Michael Blake Trio
  • Lugar: Auditório do I.S.E.C.

  • Fecha: 27/03/2004

  • Hora: 21:30 horas

  • Músicos:
    Michael Blake: saxofones tenor e soprano
    Ben Allison: contrabaixo
    Jeff Ballard: bateria

Resenha - Reseña 

Portugués: João Aleluia

Español: João Aleluia - traducción: Diego Sánchez Cascado DISPONIBLE EN BREVE

  • Resenha: O encerramento da primeira parte da edição deste ano do Festival de Jazz ao Centro ficou a cargo do trio do saxofonista canadiano Michael Blake.

    Este foi o grupo que maior fatia de público conseguiu levar à sala que, embora não se tendo apresentado lotada, esteve bastante composta. E isto compreende-se facilmente se atendermos ao percurso dos músicos integrantes deste trio: Michael Blake e Ben Alison são dois dos pilares fundadores da associação “Jazz Composeres Collective”,que tem recebido os louvores da crítica especializada; Jeff Ballard, não fazendo parte do núcleo duro deste colectivo tem, no entanto, tocado com regularidade com alguns dos seus membros, já para não falar das colaborações que tem tido com músicos da mais elevada estirpe, como Chick Corea ou Kurt Rosenwinkel.

    Sentiu-se numa fase inicial deste concerto que o grupo passou por uma fase de adaptação à sala e ao público e, com efeito, os primeiros temas executados não esconderam uma certa intermitência e alguma fragilidade. Todavia, este foi um caso paradigmático de uma performance em crescendo: o fluxo musical foi-se gradualmente intensificando, os laços musicais foram-se fortalecendo e as arestas deste triângulo foram-se burilando e tornando mais nítidas.

    Michael Blake explanou de forma extremamente satisfatória o seu estilo pessoal, facilmente reconhecível quer integrando as fileiras dos irreverentes Lounge Lizards, quer nas formações e/ou projectos mais ortodoxos onde tem pontificado ultimamente, como será o caso deste trio por si encabeçado. Tem um som especial este saxofonista, como que fundindo a suavidade e gentileza de um Ben Webster ou Warne Marsh com o nervo e o músculo de um Wayne Shorter...

    Com o decorrer do concerto, Blake foi-se tornando mais ousado, intensificando as suas intervenções, enveredando por caminhos ínvios e experimentando soluções menos óbvias. Ainda que de uma forma sóbria e reflectida, foi também interessante vê-lo em Flip (tema dedicado a Steven Bernstein) tocando simultaneamente os dois saxes que trouxe, colocando-se assim na senda de um Rahsaan Roland Kirk.

    Blake foi exemplarmente coadjuvado por Ben Allison e Jeff Ballard. Em relação ao contrabaixista, pudemos uma vez mais confirmar, à semelhança do que se havia verificado aquando da sua última passagem por Portugal, no último Seixal Jazz, onde integrou o quinteto de Ted Nash, que mais do que uma promessa é já uma confirmação. Tecendo vigorosas teias harmónicas e sempre imaginativo nas suas intervenções, Allison foi um músico versátil e que soube imprimir o vigor e a segurança que sentimos nos grupos que lidera.

    Quanto a Jeff Ballard, demonstrou por que é um baterista tão requisitado actualmente, passeando soberbamente em palco a sua classe. Foi um vector fundamental no equilíbrio do conjunto, conferindo-lhe uma solidez inabalável.
    Aqueles que se deslocaram ao auditório do I.S.E.C. não deram o tempo por mal empregue, já que puderam assistir a duas horas de um jazz a meio caminho entre o mainstream e a vanguarda, praticado de uma forma inspirada, natural e despretensiosa.

    Para finalizar, uma nota apenas para o tema que fechou o concerto, o belíssimo “Guinea” da autoria de Don Cherry. Foi um final em cheio, vibrante e apoteótico!

    Post-Scriptum:

    Um texto inerente à edição deste ano do Festival de Jazz ao Centro pecaria por omissão se não incluísse uma referência, ainda que breve, às jam-sessions que se seguiram aos concertos do evento.

    Usufruindo das excelentes condições do recentemente inaugurado Jazz ao Centro Clube (www.jacc.pt), por este espaço passaram os músicos que actuaram no festival, desdobrando-se nas mais diversas formações e interagindo com alguns músicos locais.

    Vários foram os momentos que certamente ficaram na memória dos que tiveram o privilégio de assistir a estas after-hours. Um dos mais gratificantes foi, sem sombra de dúvida, a performance conjunta dos trompetistas Dennis González e Roy Campbell, juntamente com Joe Morris (no contrabaixo) e o baterista Mike Thompson. Mas seria uma grande injustiça não mencionar o contagiante entusiasmo de Daniel Carter, bem como o sentido estético dos saxofonistas portugueses Rodrigo Amado e Abdul Moimême.

    Esperamos ansiosamente pela segunda parte do festival, programada para o início de Dezembro do presente ano.

    João Aleluia