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ANDREW HILL SEXTET

Seixal Jazz 2003 - 7ª edición


Data: 1 de novembre de 2003 / 1 de noviembre de 2003
Lugar: Auditório Municipal - Fórum Cultural do Seixal. Seixal, Portugal
Hora: 21h30 (1º set)
Audiência: 300 pessoas

Músicos:

  • Andrew Hill – piano
  • Greg Tardy – saxofone tenor
  • Ron Horton – trompete
  • Jason Yarde – saxofones alto e soprano
  • John Herbert – contrabaixo
  • Nasheet Waits – bateria

Resenha - Reseña 

Portugués: João Pedro Viegas / Español: traducción: Diego Sánchez Cascado DISPONIBLE EN BREVE


Resenha:  O Seixal Jazz 2003 acaba da mesma maneira como começou, ou seja, muito bem.

De facto, a apresentação do sexteto do pianista Andrew Hill mostrou ao auditório do Seixal um bom exemplo do que é construir, ao longo de mais de cinquenta anos, uma carreira músical sempre na vanguarda. É que para ser vanguardista, não basta ter o léxico e o ar, é necessário ter as ideias que possibilitem acrescentar ao já existente novos caminhos e novas soluções, que contribuam para que as linguagens se renovem e para que a música continue permanentemente em evolução.

Foi precisamente isso que um Andrew Hill, em excelente forma, veio mostrar a uma sala cheia no Seixal Jazz 2003. Estabelecendo um paralelismo com o ultimo espectáculo do pianista em Lisboa, aqui à quatro anos e, se a memória não nos falha, também à cabeça de um sexteto, podemos afirmar que a sua música se encontra renovada e, correndo o risco de parecer fundamentalista, até melhor. O melhor elogio que pode ser feito a Andrew Hill é que a sua música é unica e que, mesmo como instrumentista, não toca parecido com nenhum músico conhecido. É unico e bom. Bem hajas Andrew!

O concerto começa com um Hill minimal nas intervenções, a marcar o tempo da peça, desconstruindo a melodia pelo tom e pautando as suas intervenções por uma contenção verbal assinalável. Às escassas mas belas intervenções do lider, contrapôe o resto da secção rítmica com um acompanhamento frenético, tocado a 100 à hora e que, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, faz todo o sentido numa música que se alimenta de peculiaridades e se constroi sobre contradições. Por cima, os sopros desenhavam melodias belissimas, acompanhando as dinamicas e sugerindo paisagens quentes e cheias de vitalidade.

Coube ao saxofonista Jason Yarde abrir as hostilidades no que aos solos soprados diz respeito. E logo aí o saxofonista mostrou ao que veio. Para quem tinha receio pela falta de Marty Ehrlich no sexteto, a pujança e capacidade criativa deste até agora pouco conhecido saxofonista, dissipou todas as duvidas. Par não me alongar muito diría apenas que Jason Yarde, tanto neste primeiro solo como no resto da sua actuação, foi simplesmente arrebatador, o que nos parece notável para um músico que está pouco rodado com esta banda.

Greg Tardy, não atingindo o brilhantismo do seu companheiro do alto, foi também um saxofonista competente e inspirado. Notável o timbre do seu tenor. Tardy é possuidor de um som cheio, musculado e de uma capacidade de improvisação sem mácula. Tem um discurso que aqui e ali lembra o Coltrane de “Lush Life” e “Giant Steps”.

Ron Horton é o soprador mais identificado com a música de Hill. Não surpreende portanto que fosse ele a orientar os outros “reed men” quanto ao tempo das peças e à sua estrutura. É um músico adulto, com voz própria, que nesta actuação esteve mais sóbrio do que os seus companheiros de sopro. Mas não queremos dizer com isto que tenha estado menos inspirado ou menos eficaz. Na balada que o sexteto tocou e nos momentos mais líricos e pastorais do concerto, foi Horton que brilhou, sobretudo num momento genial em que o trompete e o piano nos presentearam com um raro momento de serena improvisação.

Por detráz de uma aparência de um moço de recados da máfia Italiana dos anos 30, se esconde uma personalidade musical fortissima. Com efeito, John Herbert, contrabaixista de amplos recursos, é uma força da natureza. Não admira que seja requisitado por músicos como Matt Wilson, Uri Caine ou até mesmo Greg Osby. Este instrumentista, natural de New Orleans, é capaz de executar sem mancha o mais fulgurante swing, para minutos depois estar a acompanhar a banda num registo completamente novo. Sabe tocar straight, é um extraordinário improvisador e aínda um músico com ideias novas, que nos dá imensa vontade de ver à cabeça de uma banda sua.

Nasheet Waits, que já tinhamos visto este ano no Seixal Jazz a acompanhar Jason Moran, esteve à altura dos acontecimentos. É curioso que, para um músico que começou a tocar relativamente tarde (1992), revele já uma capacidade técnica e uma maturidade artística que o torna seguro em diferentes contextos. É incrivel a elasticidade do seu discurso, que oscila frequentemente entre as mais modernas abordagens ao instrumento e a mais pura tradição. Aqui foi um catalizador da pulsação do grupo e parecia que tocava com Herbert à muitos anos.


Comentario

João Pedro Viegas Traducido por Diego Sánchez Cascado