>> VOLVER A TOMAJAZZ

 
 

 

    THE SCHULLDOGS

Seixal Jazz 2003 - 7ª edición


  • Data: 31 de Outubro de 2003 / 31 de octubre de 2003
  • Lugar: Auditório Municipal - Fórum Cultural do Seixal. Seixal, Portugal
  • Hora: 21h30
  • Audiência: 300 pessoas

  • Músicos:
    George Shuller (bateria)
    Ed Schuller (contrabaixo)
    Herb Robertson (trompete)
    Rich Perry (saxofone tenor)

Resenha - Reseña 

Portugués: Eduardo Jorge Chagas / Español: traducción: Diego Sánchez Cascado DISPONIBLE EN BREVE

Portugués: João Pedro Viegas / Español: traducción: Diego Sánchez Cascado DISPONIBLE EN BREVE


  • Resenha: Mesmo sendo tendencialmente verdade que a análise crítica por vezes condiciona ou limita a fruição emocional de uma obra ou da sua apresentação pública, casos há em que essa perturbação é induzida por causas imputáveis aos próprios artistas. Foi o que se passou no concerto da formação norte-americana Schulldogs, na noite de 31 de Outubro de 2003.

    Schuller & Schuller, George e Ed, mais Rich Perry e Herb Robertson, estes últimos recentes aquisições para os lugares outrora ocupados pelos pesos pesados George Garzone e Tony Malaby, trabalharam bem as composições da irmandade schulleriana e actuaram com bom nível técnico e artístico, individual e colectivamente.

    Só que – lá está a tal ajuda involuntária que por vezes se mostra fatal, pesem embora as melhores intenções – os manos não se contiveram nos limites do bom senso e bom gosto em que se deveriam confinar na arte da improvisação colectiva e acabaram ambos por se exceder em exibições de inusitado barroquismo.

    No caso do contrabaixista, o problema residiu num excesso de exposição, com intervenções solísticas prolongadas, repetitivas e globalmente desinteressantes. Muito déjà vu. Não havia necessidade de seguir por aquela via, quando às primeiras notas se tornou evidente que Ed possui absoluto domínio sobre o instrumento, e que é capaz de dele extrair um som cheio e uma marcação de nível superior.

    Como se não bastasse o excesso, Schuller fez acompanhar todos os intermináveis solos (um por cada tema) de uma constante e maçadora gemidura, tique comum ao colega Joe Fonda e ao pianista Keith Jarrett. Numa apreciação mais benévola, do tipo dois em um, tivemos um bom contrabaixista e um mau cantor.

    O problema com o líder George Schuller, embora parecido com o de Ed – ou não fossem eles irmãos de sangue – acabou por ser menos perturbador da desejável e natural comunicação com o público. George tocou demais, numa jactância sem tréguas nem espaços para respiração. Tal como o irmão, pareceu mais preocupado em mostrar todas as armas e técnicas do seu infinito arsenal e em disparar em todas as direcções, tiros que ajudaram a matar a coerência do discurso colectivo de que o público haveria de beneficiar, não fora a competição em que se deixaram enredar e que acabou por desequilibrar o concerto.

    Quem valeu ao público presente no Fórum Cultural do Seixal foram os sopradores Rich Perry e Herb Robertson. Ouvir o primeiro – que conhecia apenas de disco como saxofonista competente – foi um gosto. Em tudo, Perry revelou-se o negativo da fotografia dos Schuller brothers: sóbrio, discreto, mas bom que se farta e senhor de um timbre particularmente suave, fluido, de cores outonais e de textura leve, quase transparente.

    A contrastar com este lado terra de Rich Perry (e mais ainda com a água que meteram os outros dois), esteve o fogo, o riscar de giz em ardósia que é o som poderoso e fragmentado de Herb Robertson, um dos trompetistas mais criativos da actualidade, que tanto dá para a caixa da tradição, como para a das vanguardas mais radicais.

    Já ouvi Robertson em variadíssimos contextos e formações, quer em disco quer ao vivo. Na noite do Seixal encontrei-o em boa forma, ainda e sempre à beira de partir o instrumento pelo meio. Com Robertson, paradoxalmente, o excesso enriqueceu o trabalho comum. Apenas porque, além de saber tocar, tal como Perry, sabe ouvir e encolher o ego.

    The Schulldogs... vão-se os Schull, fiquem os Dogs. Sendo assim, anda daí Bobby, que para a próxima ouves só metade.

    Eduardo Jorge Chagas


    Comentario:

    Eduardo Jorge Chagas Traducido por Diego Sánchez Cascado


     

  • Resenha:  Esta é uma banda sobre a qual, não há dificuldade nenhuma em escrever. São , claramente todos eles, bons músicos de jazz. E, no auditório do Seixal, essa qualidade ficou provada para além de qualquer duvida.

    O começo do concerto é uma amostra bem real do que veio realmente a acontecer - bom jazz. Mas, para ser mais claro, vamos relatar os factos desde o início.

    Começa concerto com um bom pedaço de jazz corrido, com os sopros em unissono, sob uma base rítmica a swingar competentemente. Herb Robertson começa a solar, manipulando uma das várias surdinas que utilizou durante o concerto. É curioso que, no final do concerto, ficou a sensação que Robertson utilisou mais “hardware do que software”; ou seja, foi melhor na forma do que no conteudo.

    Passamos a explicar; o grande trompetista não esteve particularmente inspirado no Seixal, uma vez que a sua participação foi, no que à parte improvisada diz respeito, de uma falta de inspiração confrangedora. É certo que arrancou belíssimos solos, mas foram todos executados da mesma forma. Foi repetitivo, e ele tem capacidade para muito mais. Para quem o conhece em disco e até ao vivo, quer como sideman de outros grandes musicos, ou à frente do seu trio, a gravar para a Candence, com Dominic Duval e Jay Rosen, ou para a Drimala Records à frente de um quinteto (AERCINE) com, entre outros, o pianista Michaell Jeffrey Stevens, foi curto aquilo que ouvimos no Seixal. É claro que estamos a falar de um dos grandes trompetistas do jazz contemporâneo, mas, por isso mesmo, temos de ser de um grau de exigência mais elevado. E, tendo essa mesma exigência em conta, Herb Robertson, não tendo de maneira nenhuma desiludido, em nossa opinião, poderia e deveria ter feito muito mais. Até porque o tapete sonoro que lhe foi proporcionado peloa seus comparsas foi de altíssima qualidade.

    Rich Perry esteve muitíssimo bem, quer como acompanhante das composições dos manos Schuller, quer, sobretudo, como solista. Aí, revelou-se um estudante atento da semiótica Ornettiana, pois foi um solista desarmante em várias ocasiões e, simultaneamente, á medida que solava, um acompanhante certo e previsivel. É obra. O que podemos dizer de Rich Perry é que fez esquecer a ausência do grande Tony Malaby. E não é pouco, pois discos dos Schulldogs como “Hellbent” vivem muito, para além da química revelada no Seixal pelo grupo, do génio e da criatividade do saxofonista supracitado.

    Ed Schuller tem tanto de grande músico, compositor e improvisador, como de mau cantor. Claro que isto é uma provocação, pois Ed normalmente acompanha os seus excelentes solos (improvisos), com uma espécie de “scat” que , a nós, nos incomoda. Àparte este “fait divers”, conseguimos entender porque é que este músico é companhia habitual de músicos com a envergadura de Paul Smoker. É que tocar contrabaixo desta maneira não está ao alcance de qualquer um. Ed Schuller é hoje, um baixista de mão cheia, um instrumentista de amplos recursos, e, pelo visto no Seixal na noite de 31 de Outubro, também um extraordinário compositor. Algumas das peças dos “Schulldogs” são da sua autoria.

    Para o fim a apreciação ao lider! George é claramente o aglutinador das vontades da banda. E o director também. Brincando um bocado com a nomenclatura, dir-se-ía que George funciona como um general de muitos exércitos. Conhecedor de toda a linguagem do jazz, aplica-a com bom gosto e, de uma maneira simples, leva a banda a visitar muitos dos espaços que normalmente os músicos mais vanguardistas não visitam. George, com a sua veia swingante, torna o som da banda mais inteligivel, e, tem a rara capacidade de, com um perfeito domínio das dinamicas, quer acompanhando o irmão nos momentos mais intimistas do concerto, quer a empurrar a banda para momentos mais livres, conseguir tocar ao vivo música que, na essência pode ser catalogada por um dos títulos das peças que apresentou na noite de 31 de Outubro no Seixal-“Better Than Prozac”.

    João Pedro Viegas


  • João Pedro Viegas Traducido por Diego Sánchez Cascado